*Por Giovanna Araújo (Dijó)
No final de semana dos dias 12 e 13 de maio, o Movimento Juvenil Dominicano de Porto Nacional teve a oportunidade de participar do III Acampamento da Juventude Romeira – Semana da Terra e das Águas Padre Josimo. O sábado teve inicio com um momento muito rico em que foi possível ter o primeiro contato com os diferentes jovens, de diferentes lugares, com experiências de vida diversas, mas com um aspecto comum: o amor e respeito pela vida e trajetória do Padre Josimo.
“Cajueiro pequenino
Carregado de fulo
Eu também sou pequenino
Carregado de amor”
Cantando nos propuseram a ir de encontro às pessoas que não conhecíamos, e assim foi possível saber – mesmo que de forma superficial – de onde cada um vinha, o grupo que representava, sua luta etc. A partir daqui começamos a saborear e prever o quanto esse acampamento nos traria bons frutos.
Após um delicioso rango, era hora de partir para as oficinas que tinham como temas: Política e Juventude, Agroecologia, Comunicação Popular e Juventude e Igreja.
Eu fui direcionada a participar da oficina de Comunicação Popular que foi dirigida pelo companheiro de vida e de grupo, Rafael Oliveira. Éramos cerca de 46 jovens participantes, e inicialmente nos foi questionado qual o nosso entendimento sobre “Comunicação Popular”. Durante os primeiros questionamentos, concluímos que as redes abertas de televisão, tais como a Globo e o SBT são grande inimigas do povo, pois detém o poder de manipulação, fazendo com que na maioria das vezes tenhamos conhecimento dos fatos de forma limitada, e se nós nos apegarmos somente aos noticiários transmitidos por essas redes de comunicação, acabamos sendo influenciados a notícias que nem sempre são verídicas.
Após analisarmos um vídeo, e discutirmos sobre o quanto a Comunicação Popular é importante para as comunidades de base, dividimos os participantes em quatro grupos, onde cada um ficou com a responsabilidade de discutir em grupos menores quatro perguntas, que foram as seguintes: Como a comunicação tradicional interfere na minha vida? Como eu posso fugir dessa comunicação tradicional? Eu conheço algum tipo de comunicação popular/alternativa? Como eu gostaria que os meios de comunicação retratassem a minha realidade?
Posteriormente cada grupo teve a oportunidade de partilhar suas ideias, sendo que em unanimidade os grupos relataram sobre como a influencia da comunicação tradicional pode ser altamente prejudicial quando não temos conhecimentos dos fatos. Destaco aqui sobre como hoje os nossos movimentos sociais são criminalizados pela mídia opressora, e sobre como isso afeta diretamente as nossas atividades em prol da justiça social e do bem comum. Durante a oficina pude conhecer um pouco sobre meios de comunicação popular promovidos por jovens que estavam ali no nosso meio, sendo um dos projetos o “Jovem em comunicação” que faz cobertura de eventos de suas comunidades locais, e de eventuais programações em que são convidados a participar, eles registram com fotos, vídeos, relatos e posteriormente compartilham no blog e página do facebook, confiram: https://jovensemcomunicacao.wordpress.com/.
Minhas companheiras de acampamento participaram de oficinas diferentes:
“Na tarde de sábado, eu e Laides participamos da oficina ‘Juventude e Agroecologia’, conduzida pelos integrantes da APA-TO, Yuki Ishii e Palmeira Júnior. Com o intuito de nos conhecermos, cada participante fez a sua apresentação, salientando qual era o seu contato com a agricultura. Em seguida, Yuki nos entregou um grão de milho e um grão de soja, nos convidando a refletir sobre esses dois alimentos e o que cada um deles representa; as palavras usadas pelos participantes para caracterizar esses alimentos foram colocados em sua volta, formando dois ciclos, o que nos permitiu visualizar a distinção entre agricultura familiar e agronegócio.
Durante a roda de conversa, foram apresentados dados que explicitam quão contaminados são os alimentos que consumimos, visto que o Tocantins é apontado como um dos estados brasileiros que mais consome agrotóxico e no cenário mundial, o Brasil também ocupa uma posição notável. É válido ressaltar que dos 50 agrotóxicos mais utilizados no Brasil, 22 são proibidos em países europeus, por conta dos danos causados à saúde. Jovens do campo e da cidade mostraram-se bastante participativos e envolvidos com a temática abordada, notando o importante papel da Agroecologia nesse contexto, pois se trata da união entre agricultura e ecologia, mantendo o meio em equilíbrio. Após esse momento de diálogo, nos dividimos em grupos menores para discutirmos sobre o compromisso da juventude em disseminar a agroecologia no cenário em está inserido. No decorrer da partilha, jovens expressaram frases de manifesto, repudiando a visão benéfica do latifúndio, que a mídia tenta propagar. ‘Se a gente não sabe o que vai comer, não sabe se vai viver’ e ‘Comer alimento saudável não é privilégio, é direito’, foram umas das proferidas.”
[Thamires Ramalho – Coordenadora do MJD Santo Antônio]
A noite foi de palpitar o coração. Fizemos uma mística profunda em memória a Josimo, e ali em uma grande roda acendemos velas enquanto ouvíamos sobre seu legado e sua missão que agora também é nossa. Em seguida, caminhando fizemos uma grande romaria rumo a nossa Noite Cultural que aconteceu na quadra de esportes da Vila Tocantins – Esperantina. A gente passava e o povo olhava aquele tanto de jovens segurando estandartes e banners com o rosto de Josimo e de tantos outros mártires que morreram pela luta da terra dos menos favorecidos. Esse momento aqueceu o coração e aumentou a vontade de juntos sermos cada vez mais um pouquinho do que Josimo a exemplo de Cristo foi.
A noite cultural foi recheada de apresentações. Teve dança, teatro, cordel, encenação, forró e muita alegria. O povo que não estava no acampamento se aproximou, uns sentaram conosco, outros mais tímidos ficaram nas muretas das quadras, mas estavam todos ali, atentos ao que esse bando de jovens estavam fazendo.
No outro dia cedo lá estávamos nós, comendo um cuscuz feito com muito amor pra repor as energias e tomar coragem pra apresentar aos outros aquilo que tínhamos aprendido nas oficinas. O grupo de Comunicação Popular, do qual fiz parte, decidiu apresentar em forma de um “vlog na TV” – uma mistura inventada na hora pra gente mostrar nosso espírito blogueirinho de ser. O vlog foi batizado com Carioquinha 123 – pra fazer memória de um amigo que infelizmente não pôde estar fisicamente no acampamento – e foi dividido em duas partes: a primeira em que a entrevistadora questionava que tipo de comunicação popular os jovens convidados ao programa exerciam, e a segunda parte um quadro chamado “pergunta que eu respondo”, em que a entrevistadora fazia contato com uma repórter que estava no local do III Acampamento da Juventude Romeira e tinha três perguntas para fazer aos convidados. Foi uma maneira criativa e simples que encontramos em mostrar que a Comunicação Popular é importante para autonomia das comunidades de base, sobretudo porque a partir da comunicação podemos dar visibilidades às causas que defendemos.
“O grupo de Juventude e Agroecologia resolveu apresentar os dois ciclos criados durante a oficina: o Ciclo do Agronegócio, representado pela soja e o Ciclo da Agricultura Familiar, representado pelo milho. Após apresentar essa disputa de modelos, os jovens leram uma poesia (trecho a seguir), escrita por Igor de Carvalho:
‘Precisamos saber aproveitar a árvore
que tem tronco, frutos e sombra.
Mas não deixemos ir embora a floresta
pelo mero poder da compra.
Precisamos da agricultura, da ecologia
e unir os valores pra criar
uma nova forma de pensar
chamado agroecologia'”
[Thamires Ramalho – Coordenadora do MJD Santo Antônio]
Pra finalizar o acampamento tivemos uma missa linda presidida por Dom Giovane, momento este em que ele aproveitou a oportunidade para parabenizar a equipe organizadora, bem como a articulação dos jovens. Ficou muito feliz em ver que muitos jovens que estavam no III Acampamento já haviam participado das outras edições e tem dado continuidade a esse momento lindo. Nossa companheira de vida e de grupo, relata um pouco do que o acampamento significou para ela:
“Tive a oportunidade de participar do III acampamento da juventude Romeira, pela primeira vez, onde vivi a história de luta do padre Josimo.
O acampamento foi um momento de animação, descontração, mas também de reflexão, pois cada depoimento contado sobre o padre Josimo me emocionava. Foi um homem que viveu ao lado do povo, era defensor dos lavradores indefesos, dos povos oprimidos que viviam nas garras do latifúndio. Josimo, ‘padre negro de sandálias surradas’, um herói que questionava que se sua voz fosse calada, quem defenderia o povo? Quem lutaria em seu favor?
No acampamento além da grande homenagem que se fez ao padre Josimo, mostrou também aos jovens que ali estava a importância de se fazer memória para continuar a resistência que o padre Josimo tanto defendeu. Josimo vive!”
[Laides Alves – Promotora de Finanças do MJD Santo Antônio]
Saímos do acampamento com a vontade de ficar. Josimo vive, Josimo está presente, e com essa certeza seguiremos com todas as experiências e ensinamentos no coração. Esse relato não é nem de longe quão prazeroso foi estar no meio daquela gente que agrega, soma, sonha e realiza. Os sistemas de dominações podem nos oprimir, mas nunca conseguirão nos calar.
* Promotora de Missão e Caridade do MJD-BR