por Amanda Pankararu*
“No Brasil, todos tem sangue indígena. Uns nas mãos, outros nas veias e outros
na alma.”
Nesse mês comemorativo, enquanto mulher indígena em contexto urbano preciso lembrar que a violência às indígenas e o próprio genocídio dos povos indígenas foi absolvido e incorporado na sociedade tendo como base o mito da democracia racial. Há a tentativa constante de apagar a resistência de segmentos populacionais significativos para sociedade brasileira naturalizando as violências sofridas dos povos indígenas que sobreviveram ao processo de invasão. A hiperssexualizaçãodos corpos femininos de indígenas é resultado dos inúmeros estupros que nossas ancestrais sofreram, no intuito de um apagamento étnico.
Enquanto o desvelamento desse capítulo da história e o enfrentamento do genocídio dos povos indígenas não fizer parte de uma agenda coletiva das mulheres também não indígenas, o caminho para uma ampliação da libertação de todas as mulheres em âmbito nacional, ainda estará muito obstruído.
É preciso que haja reparação histórica, ou seja, é preciso que haja o reconhecimento de povos originários que tiveram sua existência negada por todos esses anos de construção da sociedade brasileira. E para além disso, é preciso dar ênfase a resistência das mulheres, que foram cruelmente violentadas e impedidas por vezes de ter voz ativa nesses processos, visto que o sujeito masculino sempre esteve presente nas relações humanas com denotadosprivilégios. Ora tal sujeito masculino, como antagonista direto das negociações interétnicas e liderança da resistência política e pública do povo, ora como estuprador e agente de limpeza étnica.
Na atualidade, com os diversos feminismos sendo pautados constantemente, o desafio lançado para os movimentos sociais é justamente de absorver também as narrativas das mulheres indígenas. Que tenhamos na luta por igualdade de gênero o sentido de avançar na composição de estratégias que consigam contemplar as múltiplas realidades e defesa de direitos de todas as mulheres brasileiras, sendo assim incorporadas as demandas das indígenas como bandeiras de luta todos.
O mundo que defendo é exatamente um lugar onde a consciência coletiva ligada a não opressão de nenhum povo se sobressaia ao individualismo.
Que permaneçamos resistindo para existir!
*Amanda é indígena, pertencente ao povo Pankararu