Mulheres na Ciência

20200307_183157_0000Por Mariana De Laquila Ohashi*

Recentemente, duas mulheres brasileiras, Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP e coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP e bolsista da FAPESP, lideraram o sequenciamento do novo coronavírus. Um passo importante para saber a origem do vírus e evolução, caminho para possível vacina e sua cura. Jaqueline, durante o seu doutorado, participou da formulação de protocolos de tratamento de outros dois vírus que também são grandes preocupações na nossa saúde pública, o zika e o HIV. 

Diante de atuações tão importantes da ciência, que geram benefícios para a população mundial, recordo esta fala do Papa Francisco, que inclusive já trabalhou em laboratório como técnico de química, em sua conta no Twiiter @Pontifex, por ocasião do Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, em 2018:

“A comunidade científica hoje é chamada a constituir uma liderança que indique soluções para o desenvolvimento sustentável e integral de todos os povos, indispensável para a construção da paz. #WorldScienceDay

De acordo com a Unesco, as mulheres representam 28% dos pesquisadores em todo o mundo. Mas por que tanta diferença?
Vai além da pura e simples discriminação devido ao gênero. Primeiramente, gostaria de citar os assédios que podem ser tanto moral, quanto sexual que além de desmotivar, afetam psicologicamente as mulheres que o sofrem.

Em segundo, trago o exemplo de Rosalind Franklin, que dirigiu o estudo que permitiu a observação do formato helicoidal do DNA, mas seu nome não foi creditado pela descoberta. Os créditos foram para dois cientistas, James Watson, americano, e Francis Crick, britânico, que acabaram levando o Nobel de medicina em 1962, pela descoberta. 

Outro fato é de que nossa cultura cria mulheres para cuidar da casa, criar uma família e para isso, profissões em que não exija tanto do seu tempo. E homens para terem uma carreira de sucesso, não importa quanto tempo precisam estar longe de casa. Devido pesquisas levarem anos para serem desenvolvidas, mulheres ainda vivem o dilema entre carreira ou filhos, mesmo isso parecendo coisa do século passado. O direito de afastamento por maternidade para bolsistas de pesquisa, é muito recente, sendo conquistado em 2017. Esse dilema vem dessa criação que passa por gerações, de falta de representatividade e a falta de apoio que faz com que meninas cresçam acreditando que não são capazes para seguir em áreas mais complexas.

Trago aqui mulheres históricas, que provam que isso é uma inverdade: Hildegard de Bingen (1098-1179), na idade média, como abadessa, escreveu um livro sobre botânica e medicina; Ada Lovelace (1815 -1852) é creditada como a primeira programadora do mundo por sua pesquisa em motores analíticos; Marie Curie (1867 – 1934) é considera a “mãe da física moderna”, pioneira sobre a radioatividade, pela descoberta dos elementos polônio e rádio e por conseguir isolar isótopos destes elementos. Foi a primeira mulher a ganhar um Nobel e a primeira pessoa a ganhar o prêmio duas vezes, sendo o primeiro em química e o segundo em física; Florence Sabin (1871-1953) ela estudou os sistemas linfático e imunológico do corpo humano. Tornou-se a primeira mulher a ganhar uma cadeira na Academia Nacional de Ciência dos EUA e, além disso, era militante pela igualdade das mulheres; Virginia Apgar (1909 -1974) criadora da Escala de Apgar, exame que avalia recém-nascidos em seus primeiros momentos de vida, e que, desde então, diminuiu as taxas de mortalidade infantil; Ir Miriam Michael Stimson (1913 – 2002), era química, além de Irmã dominicana. Participou na compreensão do DNA; Gertrude Bell Elion (1918 -1999) criou medicações para melhorar sintomas de doenças como Aids, leucemia e herpes, usando métodos inovadores de pesquisa e ganhou o prêmio Nobel de medicina em 1988. Além das duas cientistas citadas no começo deste texto.

Em tempos onde a ciência e a vida acadêmica não são valorizadas e incentivadas pelo nosso governo, se faz necessário refletir para ações que possam melhorar este quadro. Deixo algumas sugestões: ir à museus, valorizar heroínas reais além das da ficção, como as que citei acima. Se você tem proximidade com uma criança, estimule à leitura, a sua curiosidade, e apresente a ciência como divertida, existem vídeos no youtube para isso. Mostrar à meninas que elas podem ser o que quiserem, que dominam suas próprias escolhas, também é importante para construir um mundo com mais igualdade de gênero.

* Mariana é promotora de Comunicação Nacional do MJD Brasil

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